segunda-feira, 19 de março de 2012

De mulher aos homens que pari


             
Estamos em Março mês em que se comemora e rememora o ser mulher, me penso a procura do que me faz diferente, poderosa em ser feminino ser. Me descubro útero de desova de um grande tesouro... Filhos! E a eles que vou me dizer.
            No guardo da barriga éramos um só gestando o tempo; na morna espera do seu sair para a vida. Já ali, compartilhávamos sonhos de eu ser você e você ser eu. De quando em vez você mudava de posição; como que de birra batia os pés contra meu ventre avisando: Ei!  Eu sou eu apenas eu!
            Eis que em parto me parto por ti que se fez luz para iluminar caminhos. Na rosada bochecha um sorriso carente de dentes e mordes apenas um rasgo de boca luz para dizer, sou o amor.
            Hoje quando me aconchego em posição fetal, te vejo e me revejo no útero de mim exposto na barriga do mundo fazendo da vida o aprendizado do ser amor, no dar e receber. Procriastes crias e em suas crias vejo o reflexo do seu ser. Quanto a mim, ensinou-me que do parto que me parti me multipliquei em ti. No afago de tuas crias, não minhas, não tuas: Do mundo. Me rendo a graça divina de ser mulher e poder mãe ser.
            Alguns dirão – que texto piegas, ultrapassado, banal, chinfrim – mas não tem nada não, pois esta é a minha verdade; nunca queimei o sutian que aparou os peitos que amamentaram as vidas de minha vida.
            Sou uma mulher atuante politicamente; uma profissional respeitada e realizada nas áreas em que atuo, mas nada me é mais gratificante do ser mulher do que ter tido a oportunidade de gerar, criar e participar da vida dos homens que pari. E a eles peço: Quando a memória nossa for apenas o silencio da lembrança, façam um pacto com a vida de que tudo que vivemos adube as próximas gerações de mim, de ti e, do amor pela humanidade.

Inté mais ver

Vitória Basaia
Jornalista, Artista plástica
Arte educadora
Produtora Cultural
Mãe, Avó e Bisavó de carteirinha.
           

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Cora Coralina de mim

             Hoje eu vi Cora Coralina a velha eterna menina de Goiás, ao som de serenata “minh’alma esperava por ti”, como um relicário; em um Doc lá estava ela “levaram o ouro, deixaram as pedras e entre elas eu renasci”.
            Me recordo como se fosse hoje, na época trabalhava no Correio Várzea Grandense, que até então era um semanário; o que nos dava  oportunidade de elaborar pautas com tempo de escrever folgadamente e com mais cuidado o tema a ser dissertado.
Na primeira semana de Março de 1985 havia eu comprado o livro de Cora para presentear minha sogra que adorava declamar seus poemas. Li o livro, fiquei fascinada. Ali decidi que esta seria minha pauta para o dia da Mulher. Me adentrei na pesquisa, quanto mais conhecia Cora me sentia incapaz de escrever fazendo jus a ela; tudo que escrevia pensava que estava aquém do que era merecido dizer de tamanha Mulher. Fui enrolando até que se passou o Dia da Mulher. Enfim na primeira semana de Abril de 1985 o texto ficou pronto. No dia 10 de Abril ele foi publicado. Coincidentemente no dia em que ela faleceu. Chorei de emoção pela perca e frustração porque tinha desejo que ela o lesse. Não sabia se ela se recordava de mim, mas eu a conheci quando criança, meu pai adorava os doces que ela fazia.
Todas as vezes que íamos a Goiás Velho, nós a visitávamos para o doce e uma mão de prosa. Hoje vendo o Doc me deu uma saudade danada de mim, a quanto tempo não escrevo, não me digo à alguém. Me repenso, a arte se diz por mim. Hoje penso entender o que Cora queria dizer “levaram o ouro” (sua juventude) deixaram as pedras” (a maturidade) e entre elas eu renasci “a arte”

Inté mais ver

Vitória Basaia